Bom dia.
John Piper escreveu: “livros não mudam pessoas; parágrafos, sim. Às vezes, até sentenças”.
Concordo com ele. Há alguns textos bíblicos que me são especiais, pois causaram grande impacto no meu coração, chegando em momentos difíceis, de tribulações e fragilidade. Eles trouxeram a mensagem divina que eu precisava ouvir naquele exato momento. Foi o que fizeram essas palavras tranquilizadoras de Jesus ao apóstolo João na ilha de Patmos:
“Não tenha medo! Eu sou o Primeiro e o Último. Sou aquele que vive. Estive morto, mas agora vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do mundo dos mortos.”
(Apocalipse 1.17b,18)
João estava exilado em Patmos, uma ilha prisão, “por pregar a palavra de Deus e testemunhar a respeito de Jesus”. Ele escreve aos irmãos das sete igrejas da província da Ásia se apresentando como “irmão e companheiro no sofrimento, no reino e na perseverança para a qual Jesus nos chama”. O discípulo amado vivia num tempo de lutas e privações - a cruel realidade de Patmos.
Há várias formas de permitirmos que as circunstâncias nos derrotem. Podemos fazer isso nos entregando à autopiedade: “Por que comigo?” Ou nos rendendo ao desencorajamento: “Para que continuar?” Podemos ainda nos tornar irritadiços, amargos ou cínicos nas provações.
Como João reagiu a Patmos? Essa é a pergunta mais importante que podemos fazer sobre ele. E também a questão mais importante que podemos fazer sobre nós mesmos. Nossas circunstâncias, sejam elas quais forem, podem ser muito importantes. Mas a questão de suprema importância não é quão terríveis elas sejam, mas como reagimos a elas.
As tribulações são, na maior parte das vezes, ferramentas com as quais Deus nos molda para coisas melhores.
Henry Ward Beecher, 1813-1887
Como João reagiu a Patmos? Ele não deixou que Patmos o dominasse. João recusou render-se à prisão. Patmos era real. Seu sofrimento era verdadeiro. Como ele resistiu? Veja estas palavras do pregador Clovis Chappell, 1882-1972 sobre essa passagem:
“Eu estou em Patmos”, ele diz. “Mas Patmos não está em mim!” Ele entrou em Patmos, mas Patmos não entrou nele!
O cristão precisa cultivar uma espiritualidade equilibrada, com os olhos fitos nos céus e os pés firmados na terra. Se ele se desconecta da terra e vive apenas voltado para o céu, se torna um alienado, um fanático. Se ele tira os olhos dos céus e os coloca apenas na terra, então ele se torna um materialista, um cristão morno, um hipócrita. João é exemplo da espiritualidade sadia equilibrada. Ele não nega Patmos nem tira os olhos de Deus.
Então Jesus Cristo glorificado aparece a João para dizer as palavras que ele e nós precisamos tanto ouvir quando as dificuldades chegam: “Não tenha medo! Eu sou o Primeiro e o Último. Sou aquele que vive. Estive morto, mas agora vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do mundo dos mortos.”
"Sou o Primeiro e o Último". Não há nada que escape dessa amplitude, nada.
"Sou aquele que vive. Estive morto, mas agora vivo para todo o sempre!". Mesmo quando tudo parecia ter dado errado, mesmo quando Jesus morreu, nem assim a situação saiu de controle. Aquela tumba não conseguiu detê-lo. Ele ressuscitou, está vivo, soberanamente vivo sobre vivos e mortos, sobre céu, terra e inferno, sobre todos os nossos problemas, sobre nossas Patmos.
"E tenho as chaves da morte e do mundo dos mortos." Ele tem o controle absoluto sobre a vida e sobre a morte. Apesar da realidade das nossas "Patmos", ele tem todo o domínio sobre sofrimento e livramento, sobre a vida e a morte.
Apesar de tudo, tudo sob controle.
Vejo essa passagem como um carinho de Jesus no rosto de João, num momento de grande necessidade.
O filme Ben-Hur, de 1959, vencedor de vários Oscar, estrelado por Chalrton Heston, 1923-2008, tem uma cena memorável. A história fictícia se passa no tempo de Jesus. Soldados romanos estão levando por quilômetros vários escravos acorrentados. Ben-Hur está entre eles. Eles passam por uma aldeia onde Jesus está. Os soldados romanos não permitem que Ben-Hur beba água, apesar do cansaço e da sede.
Jesus, com seu jeito pacífico, dá água a Ben-Hur, passa a mão em seu rosto, olha nos seus olhos, apesar do seu rosto não mostrado.
Ben-Hur sai dali revigorado. Ele continua escravo, prisioneiro acorrentado, mas seu olhar é diferente. Deus o visitara.
Que possamos sentir o carinho de Jesus nas nossas lutas. Que seu carinhoso toque nos afague em nossas lutas.
Os sofrimentos não passam de pequenas lascas da cruz.
Joseph Church
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