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  • Foto do escritorLuiz Fernando Arêas

ESTAÇÃO CAVERNA

Bom dia.




O livro dos Salmos é um banquete espiritual.


Tal como a Sabedoria no livro de Provérbios, que convida a todos a mergulharem no grande oceano do saber divino, o Saltério (livro dos Salmos) chama todos para se deleitarem no rico banquete da presença de Deus (Salmo 63.5). que nos instrui (Salmo 32.8), nos vê e ouve, tanto nossas orações (Salmo 34.15) quanto desabafos (Salmo 35.4-6) e desatinos (Salmo 39.13), refrigera-nos a alma (Salmo 23.3), entre tantas outras bênçãos.


Salmo 142

Poema de Davi, quando ele estava na caverna. Uma oração.

1 Em alta voz clamo ao Senhor; elevo a minha voz ao Senhor, suplicando misericórdia. 2 Derramo diante dele o meu lamento; a ele apresento a minha angústia.

3 Quando o meu espírito desanima, és tu quem conhece o caminho que devo seguir. Na vereda por onde ando esconderam uma armadilha contra mim. 4 Olha para a minha direita e vê; ninguém se preocupa comigo. Não tenho abrigo seguro; ninguém se importa com a minha vida.

5 Clamo a ti, Senhor, e digo: Tu és o meu refúgio; és tudo o que tenho na terra dos viventes. 6 Dá atenção ao meu clamor, pois estou muito abatido; livra-me dos que me perseguem, pois são mais fortes do que eu. 7 Liberta-me da prisão, e renderei graças ao teu nome. Então os justos se reunirão à minha volta por causa da tua bondade para comigo.



Os Salmos nos ajudam a conhecer melhor a Deus e a nós mesmos, especialmente nossas emoções. Calvino escreveu:

“Tenho por costume chamar este livro - e creio não de forma incorreta - de: Uma Anatomia de Todas as Partes da Alma", pois não há sequer uma emoção da qual alguém porventura tenha participado que não esteja aí representada como num espelho”.

Assim como um espelho nos ajuda ver como estamos do lado de fora, os Salmos nos ajudam a encontrar palavras para expressar o que se passa lá dentro.


A Bíblia compara a vida a uma jornada:

"A vida de vocês é uma jornada que deve ser empreendida com uma profunda consciência de Deus."

(1 Pedro 1.18, A Mensagem)


E a viagem do Trem da Vida é povoada de todo o tipo de estações. Nessa jornada, há estações agradáveis, de descanso e refrigério. Fazem parte dela estações mais tensas e agitadas, como a da Sé, estação central de São Paulo, onde milhares de desconhecidos se colidem e se espremem todo dia, dividindo uma paradoxal sensação de multidão e solidão.


Ao longo do trajeto, estrategicamente distribuídas, estão as estações de aniversários, sempre nos convidando à reflexão, a olharmos para trás e para adiante da jornada (Salmo 90.12).


Essa viagem também é contemplada por paradas não planejadas. Uma dessas, presente nas Escrituras, é a “Estação Caverna”, peculiar interrupção que tem o poder de subverter agendas, suspender projetos e sabotar prioridades.


Nessa estação, os sentimentos emergem e o coração é exposto. Questionamentos são feitos. A vida tem a oportunidade de ser replanejada. Perspectivas podem ser corrigidas.


Há aquelas bem difíceis, como a dura caverna do desemprego, a aflitiva caverna emocional dos relacionamentos trincados, as torturantes cavernas da enfermidade, do luto, da dor.


Todos nós passamos pela Estação Caverna, alguns mais do que outros. Ilustres personagens bíblicos, como Ló, Sansão e Elias estiveram lá. Davi escreve dois de seus belos salmos vivendo a experiência da caverna, Salmos 57 e 142. Como fica claro nos casos de Davi (Salmo 142.1) e Elias (1 Reis 19.9), Deus continua visitando cavernas em busca de seus filhos. A caverna de José foi na profundeza do calabouço de Faraó, e, apesar de tudo, “o Senhor estava com José” (Gênesis 39.23).


Sim, Deus pode ser encontrado até mesmo nas cavernas mais escuras.


Contudo, a pior de todas as cavernas, a mais profunda, escura e solitária, foi vivenciada por Jesus na cruz. Lá, suportando o terrível peso dos nossos pecados sobre si, Ele experimentou a maior escuridão de todas, o abandono de Deus, para que nós, redimidos, pudéssemos andar na luz e nos deleitarmos com o Deus que é luz (1João 1.5). Ninguém passou por caverna maior do que essa.


Graças a Deus, a Caverna não é a estação final. A jornada continua, e todas as estações são em certo sentido saudáveis, pois sempre acrescentam algo ao viajante, enriquecendo-o e preparando-o para outras estações até a estação final.


Boa viagem.


Esse texto foi publicado primeiro no Blog do Seminário Teológico Servo de Cristo (http://www.servodecristo.org.br/post/estacao-caverna).

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