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Foto do escritorLuiz Fernando Arêas

JACÓ 04 - A NOITE ESCURA DA ALMA

Bom dia.


Jacó é um dos personagens mais improváveis das Escrituras. Uma vida que vale a pena ser estudada, repleta de dias marcados por enganos, crises, lutas, decepções, alegrias e livramentos.


Duas noites em sua vida o marcam profundamente. Dois palcos da sua existência em que, fragilizado, ele se encontrou com Deus. A primeira noite foi em Betel (casa de Deus), fugindo de Canaã; a segunda, em Peniel (face de Deus), retornando a Canaã.

Este texto trata da noite de Betel.


Depois de haver conspirado com a mãe para enganar o pai e o irmão a fim de receber a bênção destinada ao filho mais velho, Jacó precisou fugir de casa, pois o irmão jurara matá-lo. Pela primeira vez na vida, ele não pode contar com a presença de sua mãe.


Eis o que acontece durante a viagem (Gênesis 28.10-12):

“Nesse meio-tempo, Jacó partiu de Berseba e rumou para Harã. Quando o sol se pôs, chegou a um bom local para acampar e ali passou a noite. Encontrou uma pedra para descansar a cabeça e se deitou para dormir. Enquanto dormia, sonhou com uma escada que ia da terra ao céu e viu os anjos de Deus, que subiam e desciam pela escada."

Esse lugar ficou sendo chamado Betel, casa de Deus. Graça pura. Deus aparece a ele e lhe promete bênção, terra e descendência, a mesma bênção prometida a seu avô Abraão (Gênesis 12.1-3).


Fugiu, sonhou, recebeu promessas, foi abençoado. Tudo muito bonito. Porém, o texto pouco fala do estado de espírito do patriarca naquela noite. Mas quando chegamos ao capítulo 35 de Gênesis, somos informados de como o patriarca estava por dentro.


Décadas depois, Deus aparece a Jacó novamente e o chama de volta a Betel para ali construir um altar “para o Deus que lhe apareceu quando você estava fugindo de seu irmão, Esaú” (Gênesis 35.1). Para isso, ele convoca seus filhos com a seguinte instrução:


“Disse, pois, Jacó aos de sua casa e a todos os que estavam com ele: ‘Livrem-se dos deuses estrangeiros que estão entre vocês, purifiquem-se e troquem de roupa. Venham! Vamos subir a Betel, onde farei um altar ao Deus que me ouviu no dia da minha angústia e que tem estado comigo por onde tenho andado’”.

(Gênesis 35.2,3 - NVI)


A noite de Betel foi dramática! Longe de casa, do pai, e especialmente da sua mãe, Jacó sentia-se absolutamente vulnerável e só, sem saber se a qualquer momento o irmão caçador seguiria seu rastro até encontrá-lo. Sozinho e com a mochila cheia de medos e incertezas. Era um homem muito angustiado que tentava dormir naquele travesseiro de pedra.


Aquela noite foi marcada no calendário de Jacó “o dia da minha angústia”, expressão tocante que aparece em outros lugares da Bíblia (por exemplo, Salmo 50.15, 86.7).


Jacó vivia “a noite escura da alma”, expressão cunhada por João da Cruz (1542-1591). Sentia-se só. Pensava estar sozinho na escuridão, mas não estava. Deus estava ali também, juntamente com seus anjos. A pior noite da sua vida se torna a noite mais gloriosa até então. Deus se revela a ele. E o abençoa. E ali começa uma caminhada que duraria a vida toda:

“...ao Deus que me ouviu no dia da minha angústia e que tem estado comigo por onde tenho andado...”

(Gênesis 35.3)


“O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”.

(Salmo 30.5).


“...na escura noite o meu coração me ensina...”

(Salmo 16.7)


Podemos aprender com Jacó que, ao passarmos pela noite escura da alma, devemos nos lembrar das promessas de Deus (Gn 28.13), e também da sua presença, proteção e provisão (Gn 28.15).


O cristão pode passar pela noite escura da alma sem temê-la. Jesus, o Bom Pastor, o protege com sua vara e seu cajado (Salmo 23.4). Na cruz, ele enfrentou a mais tenebrosa de todas as noites, para que sua vida nos iluminasse no vale mais escuro.


Se a noite escura da alma aparecer no seu calendário, confie nele. Ele sabe muito bem o que é passar por isso.



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