Bom dia.
Este post é a conclusão de ELES QUEREM GUERRA, parte 1 de 2.
Dando prosseguimento à nossa reflexão sobre o Salmo 120, vimos que a primeira lição foi: se as fake news vierem angustiar você, clame ao Senhor.
Porém, o texto apresenta uma segunda lição, que parece contradizer a primeira.
2. ACEITE QUE A RESPOSTA DE DEUS NEM SEMPRE SERÁ A ESPERADA
Sim, devemos clamar a Deus, cujos "olhos estão sobre os justos, e ouvidos, abertos para seus clamores" (Salmo 34.15). E o Senhor responde ao salmista:
"...e ele respondeu à minha oração." (Salmo 120.2)
Note que a resposta não é a que o salmista espera. O Senhor responde ao salmista, sem, contudo, livrá-lo daquela situação.
Os versos 3 e 4 nos mostram que o drama do salmista continua. Deus responde fazendo com que o salmista olhe para aquela situação de uma forma diferente.
Nem sempre Deus responde nossas orações removendo aquilo que nos incomoda.
O salmista olha para a situação de outra forma, do ponto de vista de Deus. Então ele vê o que acontecerá com esses caluniadores (v. 3). Deus lhe dá uma resposta. Deus lhe revela o que fará com eles. É como se o Senhor dissesse: "Você falou, eu ouvi. Agora confie em mim.".
Que importa não ter resposta em nenhuma voz ouvida?
Teus oráculos, a Palavra escrita,
Ainda transmitem conselho e orientação,
Compreensíveis para o reto coração.
Josiah Condor
O salmo usa duas figuras vivas para mostrar o que Deus fará aos caluniadores.
Ele lhe dará flechas afiadas de guerreiro. As flechas que o guerreiro levava consigo eram bem afiadas, penetrantes, capazes de matar. Assim é a língua enganadora. Como flecha disparada contra a pessoa, que penetra o coração, faz um enorme estrago. Como Deus é justo, fará com que esses caluniadores provem do próprio mal que causam. Deus mandará contra eles setas agudas do guerreiro. E quem fará isso com eles? Não é o salmista, mas Deus.
O salmista não retribui o mal com o mal. Ele espera que Deus faça justiça no tempo certo. O Senhor cuidará deles. Esse é o espírito dos intrigantes salmos imprecatórios, quando o salmista "pragueja" contra seus inimigos.
O texto também menciona brasas incandescentes de sândalo. O sândalo era excelente para carvão, um carvão muito quente e de longa duração. O salmista diz: "sabe o que Deus dará a você, difamador, causador de desgraça? Deus colocará brasas vivas sobre você".
Portanto, a leitura correta desse quadro é essa. O salmista suplica a Deus: “livra-me desses mentirosos”. E Deus responde: “Não. Você ficará aí mesmo, ouvindo essas mentiras e calúnias a seu respeito. Mas entenda que um dia eu farei justiça. Eu darei a eles o que eles merecem.
Pode ser que esse acerto de contas não aconteça agora. Pode ser que aconteça somente quando Cristo voltar e restaurar todas as coisas. Naquele glorioso dia Deus retribuirá a todos de acordo com as obras que fizeram.
O salmista aceita isso, se resigna. Ele entrega sua causa a Deus. Talvez eu não seja liberto agora. Mas Deus retribuirá a eles o que eles merecem. Isso nos leva à terceira lição.
3. INSISTA EM VIVER EM PAZ, AINDA QUE A GUERRA SEJA REAL
No verso 6, o salmista afirma estar cansado disso. "Tenho vivido tempo demais entre os que odeiam a paz". Os promotores das fake news não queriam paz, a odiavam. Isso é de uma atualidade impressionante. Basta ver as notícias, fakes inclusas.
O verso 7 mostra que todos os esforços que ele fazia para estabelecer a paz eram frustrados. Eles querem é guerra. Por mais pacíficos que sejamos, às vezes a guerra vem à nossa porta. Foi o que aconteceu com Abraão em Gênesis 14. Eclodira no seu quintal uma enorme guerra de quatro reis contra cinco. Ele não queria se envolver, mas não pode evitá-lo, pois seu sobrinho Ló fora feito prisioneiro.
Num dos livros de Mário Sergio Cortella aprendi duas palavras: beligerante e sicário. Beligerante é aquele que faz a guerra, que gosta de guerra; sicário é o sedento por sangue, cruel. O salmista quer a paz, mas vive entre beligerantes e sicários. Talvez você conheça gente assim, cara leitora, caro leitor. Eu conheço...
Diante dessa triste realidade, o salmista toma uma decisão: viver em paz, ainda que tenha que viver no meio deles.
É isso que Paulo nos ensina a fazer em Romanos 12, um capítulo prático, com orientações aos cristãos que vivem num ambiente hostil:
17 Nunca paguem o mal com o mal. Pensem sempre em fazer o que é melhor aos olhos de todos. 18 No que depender de vocês, vivam em paz com todos. 19 Amados, nunca se vinguem; deixem que a ira de Deus se encarregue disso, pois assim dizem as Escrituras: “A vingança cabe a mim, eu lhes darei o troco, diz o Senhor”. 20 Pelo contrário: “Se seu inimigo estiver com fome, dê-lhe de comer; se estiver com sede, dê-lhe de beber. Ao fazer isso, amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele”. 21 Não deixem que o mal os vença, mas vençam o mal praticando o bem.
Olha as brasas aí de novo. É essa a "vingança" que o Novo Testamento nos ensina. Entregue a causa a Deus. Procure viver em paz, apesar da guerra. Pague o mal com o bem.
Nosso maior exemplo vem do Senhor Jesus. Pois tudo o que está aqui aconteceu com Cristo. Ele foi caluniado, hostilizado, perseguido, vítima de línguas venenosas. Falsamente acusado. Falsamente levado ao tribunal, onde disseram mentiras contra ele.
Por mais que Jesus falasse de paz, do Reino de Deus, os homens maus não descansaram enquanto não o condenaram à morte. O Príncipe da Paz foi executado pela hostilidade dos invejosos, dos caluniadores.
Jesus suportou a cruz, a desonra e a humilhação para que nós pudéssemos ter paz com Deus (Romanos 5.1). Por isso, devemos ser pacificadores, promotores da paz, ainda que vivamos em ambiente hostil. E é somente vivendo com Jesus que podemos suportar essa hostilidade.
Poucas coisas adornam e embelezam mais a profissão de fé cristã do que exercitar e manifestar o espírito de paz.
A. W. Pink, 1886-1952
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