Bom dia!
O Salmo 84 faz parte dos cânticos de Sião.
Sião é o nome poético de Jerusalém. Os Salmos 46, 48, 76, 84, 87 e 122 celebram a presença divina em Sião, no templo de Jerusalém. Desse lugar sagrado, o Senhor dá vida à comunidade.
O salmo 84 expressa a antecipação de estar naquele bendito lugar e prevê a chegada até lá. A maioria dos intérpretes sugere que o salmo reflete uma peregrinação a um festival do templo, no início da jornada ou no ponto de chegada ao templo.
O cristão é alguém em peregrinação. Ele ainda não está em casa. Estamos a caminho do lar, numa jornada transformadora, repleta de alegrias e tristezas, experiências que vão dilapidando nosso ser.
O Salmo 84 é um poema que narra a peregrinação do salmista até Jerusalém. Nele, há uma topografia bem definida.
Os versos 1 a 4 mostram o início da caminhada.
Os versos 5 a 7 mostram um vale, um ponto em declive nessa jornada, marcado pelo vale da Baca ou vale das lágrimas.
Os versos 8 a 12 mostram a chegada a Jerusalém.
O sociólogo Zygmunt Bauman (1925-2017), conhecido pela sua leitura dos tempos pós-modernos, cunhou a expressão “líquido” - modernidade líquida, tempos líquidos, amor líquido etc. Ele fez uma comparação entre turistas e peregrinos.
Turista é aquele indivíduo que visita muitos lugares, mas não pertence a nenhum deles.
O peregrino é uma espécie em extinção em nossa cultura contemporânea. Diferentemente do turista, ele não está envolvido numa aventura de entretenimento, mas numa jornada que tem um início, um meio e um fim.
Algo o moveu a iniciar a jornada, e ele percebe que, ao longo dela, existe uma missão a ser vivenciada – e a realidade última se encontra no fim da caminhada. Tudo o que presencia ao longo do caminho são pontos de referência de grande importância e, portanto, tratados com grande reverência por parte do peregrino.
O vale de Baca faz parte da topografia da vida.
A transformação do Vale de Baca em um oásis (v 7) é de fato “uma declaração clássica da fé que ousa desenterrar a bênção das adversidades”.
5 Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados,
6 o qual, passando pelo vale árido, faz dele um manancial; de bênçãos o cobre a primeira chuva.
7 Vão indo de força em força; cada um deles aparece diante de Deus em Sião.
Salmo 84
O cristão encontra em Deus graça para superar o vale da aflição. Precisamos ter no coração a realidade de que somos peregrinos aqui, e os vales são parte integrante nessa peregrinação. Nesses vales, encontramos graça divina na medida certa ("de força em força"). Podemos manter nosso coração irrigado, mesmo nos desertos.
A poetisa goiana Cora Coralina (1889-1985) escreveu:
O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.
A questão não é o que a vida fez com você, mas o que você vai fazer com o que a vida fez com você.
No próximo post, a conclusão dessa reflexão.
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